sábado, 4 de julho de 2009

O padrinho dos meus sonhos (e dos seus também!)

Quem acompanha as notícias do mundo político, mesmo de modo muito superficial, sabe da crise do senado e sobre o movimento “Fora Sarney” que se alastra cada vez mais. Nepotismo, apadrinhamento político, nenhuma novidade. Não discutiremos aqui o mérito da questão, mas um elemento que é pouco observado.

Essa tentativa de moralizar a atividade política é amplamente difundida por diversos setores da sociedade, tendo os veículos de comunicação um papel bastante considerável nesse sentido. Contudo, esquecem que a corrupção começa pelo povo. Aquele que vende seu voto está se corrompendo. Não estou falando apenas daquela família humilde, que pouco tem o que comer e aceita uma cesta básica em troca de votos; mas também daquele empresário que troca seu apoio por algum tipo de favorecimento. Também é, de certo modo, corrupto o líder comunitário, o radialista, o religioso que por algum interesse exclusivamente pessoal está muito distante da imparcialidade que tenta demonstrar. Ou até mesmo o sujeito comum, cuja posição política está sempre de acordo com suas convicções egoísticas e jamais com as necessidades da coletividade.

De modo muito grosseiro, vou citar aqui uma das coisas mais interessantes que absorvi das aulas de Filosofia na faculdade. Kant, um dos mais importantes filósofos de todos os tempos, estabeleceu três modos de agir. O primeiro seria o agir contra o dever, que é o ato ilegal e também imoral; o segundo seria o agir conforme o dever, que é o ato legal mas não necessariamente moral e por fim, o agir por dever, que é o agir de acordo com a moral e conseqüentemente de acordo com a lei. A moral é algo extremamente significativo na filosofia de Kant. Agir por dever significa agir sempre moral e legalmente, mesmo que contrariando interesses pessoais. Pergunto então, quem de nós age deste modo?

Exigimos dos outros uma moral kantiana que nós mesmos não temos. A esmagadora maioria de nós é corruptível. Eu arrisco até dizer que todos nós somos. Talvez a grande diferença seja o preço. Alguns se vendem por qualquer trocado.

Você, seu vizinho, o dono da padaria, a torcida do flamengo, muito provavelmente fariam a mesma coisa se estivessem no lugar do Sarney. Ah, e eu também! Ou será que você, caro leitor, vai negar que A-D-O-R-A-R-I-A ter um padrinho como ele? É, portanto, incompreensível toda essa revolta contra o presidente do senado. Isso pra mim é hipocrisia. Afinal de contas o Sarney é a nossa cara!